terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Sexualidade na Contemporaneidade


As paixões tornam-se más e pérfidas quando são consideradas más e pérfidas. Desse modo, o cristianismo conseguiu transformar Eros e Afrodite – grandes poderes passíveis de idealização – em espíritos e gênios infernais, mediante os tormentos que fez surgir na consciência dos crentes quando há excitação sexual. Não é algo terrível transformar sensações regulares e necessárias em fonte de miséria interior, e assim pretender tornar a miséria interior, em cada pessoa, algo regular e necessário? Nietzsche - Aurora, p.59


Por fim, essa demonização de Eros teve um desfecho de comédia: o “demônio” Eros veio a se tornar mais interessante, para as pessoas, do que todos os anjos e santos, graças ao murmúrio e sigilo da Igreja nas coisas eróticas: seu efeito até em nossa época, foi tornar a história de amor o único verdadeiro interesse comum a todos os círculos – num exagero incompreensível para a Antiguidade, e que um dia dará lugar à risada. Nietzsche - Aurora, p.60


"O cristianismo perverteu a Eros; este não morreu, mas degenerou-se, tornou-se um vício." Nietzsche - Para Além do Bem e do Mal, p.76



Apesar da revolução sexual dos anos 60 (devemos ter em mente que a década de 20 nos Estados Unidos também foi de grande liberdade até a Grande Depressão), que se insere num processo sócio-político mais amplo, mas que teve no feminismo (primeiro movimento social a colocar em pauta as questões de gênero) seu grande propulsor (sem a libertação das mulheres não seria possível a transformação na sexualidade), ter se degenerado em razão do princípio do desempenho (Marcuse, Eros e a Civilização) que se mostra cada vez mais forte na Civilização Ocidental, penso que ainda há espaço para uma mudança de paradigma.

Na atualidade, a vivência da sexualidade está muito ligada expectativas irreais de performance (alimentadas pela mídia por razões mercantis), pela reprodução das relações comerciais (relacionamentos tópicos e funcionais) e uma aguda genitalização (em detrimento do resto do corpo). Não há uma entrega genuína, um interesse no aprofundamento dos vínculos. Grande parte das pessoas vive numa velocidade que impede qualquer estabilidade e por conseguinte, a possibilidade de uma intensa experiência sexual com o outro.

Porém, essas mesmas pessoas, na maior parte das vezes, nutrem fantasias românticas ideais (parceiros perfeitos e relacionamentos sem conflitos), e isso aliado à incapacidade de lidar com frustrações e o temor do compromisso é que as impedem de conseguir parcerias reais e satisfatórias. Enfim, parafraseando Platão, “muitos empunham o tirso, mas poucos são os bacantes”.

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